Pergunta 105: Quais são os pecados proibidos no primeiro mandamento?
Resposta: Os pecados proibidos no primeiro mandamento são o ateísmo: negar ou não ter um Deus (Sl 14:1; Ef 2:12). A idolatria: ter ou adorar mais do que um Deus, ou qualquer outro associado com o verdadeiro Deus ou em lugar dEle (Jr 2:27-28; 1 Ts 1:9). Não tê-lO e não confessá-lO como Deus, e nosso Deus (Sl 81:11). A omissão ou negligência de qualquer coisa devida a Ele, exigida neste mandamento (Is 43:2,22-23). A ignorância (Jr 4:22; Os 4:1-6), o esquecimento (Jr 2:32), os falsos conceitos (At 17:23,29), as falsas opiniões (Is 40:18), os pensamentos indignos e ímpios sobre Ele (Sl 50:21). (…)
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[Por: Johannes Geerhardus Vos]
“1. Qual é o significado literal da palavra ateísmo?
Literalmente ateísmo significa “não-Deísmo” e designa o ensinamento ou a crença de que não há Deus. Significa, portanto, a negação da existência de Deus.
2. Quais são os três tipos de ateísmo?
(a) Ateísmo teórico. (b) Ateísmo virtual. (c) Ateísmo prático.
3. O que é o ateísmo teórico?
O ateísmo teórico é a negação absoluta, em questão de opinião ou crença, da existência de qualquer Deus ou deuses.
4. O que é o ateísmo virtual?
O ateísmo virtual, que é muito difundido hoje, é a negação da existência do Deus da Bíblia, do Deus que é espírito, infinito, eterno, imutável em Seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade; em quem há três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que são os mesmos em substância e iguais em poder e glória. Como esse Deus da Bíblia é o único vivo e verdadeiro Deus, é o único Deus que realmente existe. Por isso, negar a existência do Deus da Bíblia é ateísmo virtual. O ateu virtual crê em um deus, mas não em o Deus. O seu “Deus” é um ser finito, limitado, considerado como uma implicação necessária da mente humana. Normalmente considera-se que esse “Deus” não tem existência absoluta e independente do homem e do universo Assim como “marido” e “mulher” são termos correlativos, que implicam um no outro e dependem, em seu significado, um do outro, da mesma maneira o ateísmo virtual considera “Deus” e “homem”, ou “Deus” e “universo”, como termos correlativos que implicam um no outro e que dependem, em seu significado, um do outro. Essa crença difere do afoito ateísmo teórico por ser mais sutil e não parecer tão maligna. O ateu virtual pode ser uma pessoa muito religiosa, da sua própria maneira; mas a sua crença, no fundo, não é melhor que franco ateísmo teórico.
5. O que é ateísmo prático?
O ateísmo prático é conduzir as nossas vidas como se Deus não existisse, mesmo que em termos de fé admitamos que há um Deus.
6. Qual é a forma mais comum de ateísmo?
O ateísmo aberto e comparativamente raro e causa relativamente pouco dano, pois vem franca e honestamente rotulado e é muito fácil de ser reconhecido. O ateísmo virtual é comum entre ministros, professores de teologia, professores universitários e especialmente entre filósofos. É defendido particularmente pelos que se orgulham de ser “intelectuais”. É extremamente perigoso porque é muito sutil e quase sempre aparenta ser religioso. O ateísmo prático é, de longe, a mais comum de todas as formas de ateísmo; é a posição de pessoas comuns que são simplesmente indiferentes a Deus.
7. Qual é o significado literal da palavra idolatria?
Idolatria significa literalmente a adoração de imagens, ou de deus ou deus, pelo uso de imagens.
8. Com que sentido o Catecismo usa a palavra idolatria?
Esta resposta do Catecismo usa o termo idolatria em sentido amplo e abrangente, fazendo o termo incluir o politeísmo (a crença em mais de um Deus).
9. Por que o ateísmo é, em qualquer de suas formas, um pecado terrível?
Porque Deus é o Criador de todos os homens e o ateu recusa-se a reconhecer ou a honrar o seu Criador. Essa relação entre Criador e criatura é a relação mais fundamental da Bíblia e da vida humana. Quem nega o mais fundamental de todos os relacionamentos é alguém completamente perverso e maligno, pois chegou ao limite de negar a Deus, que lhe deu a vida.
10. Porque ter mais do que um deus ou ter qualquer outro deus em vez do verdadeiro Deus é um pecado terrível?
Porque a natureza da relação do homem com o seu Criador é de tal ordem que o verdadeiro Deus demanda a sua total e indivisível devoção e fidelidade. Dividir a nossa devoção religiosa e dar parte dela ao verdadeiro Deus que nos criou e parte a alguma outra pessoa ou objeto de culto é extremamente ofensivo a Deus. Ou Deus tem tudo, ou não tem nada. Oferecer-Lhe parte da nossa fidelidade e serviço é desonrá-lO e ofendê-lO.
11. Por que a ignorância quanto ao verdadeiro Deus é um grande pecado?
(a) Porque só tendo o verdadeiro conhecimento dEle é que podemos adorá-lO, amá-lO e servi-lO corretamente. (b) Porque há abundante provisão, não apenas nas Escrituras, mas também no livro da natureza, para que o ser humano tenha um verdadeiro conhecimento de Deus. Quem é ignorante quando a Deus já desconsiderou ou usou erradamente a revelação que o próprio Deus faz de Si mesmo e manifesta que não quer ter realmente um verdadeiro conhecimento de Deus (Rm 1.28).
12. Por que esquecer-se de Deus é um grande pecado?
Porque o nosso esquecimento de Deus demonstra que os nossos corações estão endurecidos pelo pecado e que não damos muita importância a Deus. Lembramo-nos daquilo em que temos interesse ou preocupação. O nosso esquecimento de Deus é um produto dos nossos corações endurecidos pelo pecado.
13. Por que é pecado ter falsos conceitos, falsas opiniões, pensamentos indignos ou ímpios sobre Deus?
Porque os nossos enganos, erros e falsas idéias sobre Deus não brotam meramente da falta de inteligência, mas da queda da raça humana no pecado que não apenas endureceu os nossos corações e nos inclinou para todo tipo de maldade, mas que também obscureceu e perturbou as nossas mentes de sorte que deixamos de discernir a verdade e caímos vitimados por todos os tipos de erro. Toda ideia falsa ou pensamento indigno sobre Deus emana do pecado não apenas do nosso pecado individual, mas também da queda da raça humana no pecado pela transgressão do pecado de Adão contra Deus.
14. Será que ninguém tem o direito à sua própria opinião sobre Deus?
Quando falamos de “direitos” temos que distinguir entre direitos civis e direitos morais. Quanto ao direito moral a resposta à esta pergunta é Não. Ninguém tem nenhum direito moral de crer em nada que seja falso a respeito de Deus, ou de crer a Seu respeito de forma diferente da que Ele se revela nas Escrituras. Quanto aos direitos civis, quem tiver ideias falsas sobre Deus tem o direito civil de ter a sua falsa crença sem que sofra a interferência de seus concidadãos ou do Estado. Isto é, o governo civil não tem direito a nenhuma ingerência sobre os pensamentos e as crenças das pessoas e não pode perseguir nem punir ninguém por falsas crenças, e nem mesmo por ser ateu. Essa pessoa, contudo, terá de prestar contas a Deus no dia do juízo. Cremos, no entanto, que o magistrado civil pode corretamente, por causa do direito Civil proibir a propagação pública do ateísmo e da negação da responsabilidade para com Deus. Um ogão civil ao recusar a autorização para o estabelecimento de uma corporação cujo propósito seja divulgar publicamente o ateísmo não esta, na verdade, infringindo as liberdades civis ou religiosas. O sucesso de uma tal corporação resultaria na destruição dos fundamentos morais da sociedade humana e do próprio Estado. As liberdades civis e religiosas não dão o direito de se tentar destruir a própria base da civilização humana.”
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Johannes Geerhardus Vos – Catecismo Maior de Westminster Comentado, Editora Os Puritanos – p. 312-316